terça-feira, 11 de junho de 2013

40% à 80% do tempo de Gestores em Saúde é concentrado na área de Compras e Suprimentos
Reduzir custos por meio da gestão de materiais e suprimentos já tornou-se dever de casa dos gestores de instituições de saúde. No entanto, o sistema da administração pública nem sempre permite uma flexibilidade que garanta a equação menor custo e maior qualidade.
Para o diretor-geral do Instituto Nacional do Desenvolvimento Social e Humano, José Cleber do Nascimento Costa, que administra quatro hospitais fora dos grandes centros urbanos esse é um dos diferenciais do modelo de gestão de uma Organização Social de Saúde (OSS). “Hoje o INDSH administra unidades em Marajó, no Pará; Sorriso no MT; Pedro Leopoldo em MG e São José do Ribamar no Maranhão e tanto o perfil das unidades quanto a logística de abastecimento são muito particulares e, em cada uma delas, conseguimos racionalizar a área de suprimentos e reduzir de 12 a 23% os custos com materiais”, diz Costa.
Ao lado dos recursos humanos e financeiros, a área de suprimentos é a grande responsável pela operação de um hospital e é um dos principais itens na relação custo X receita. Por não enfrentar a burocracia de compras da administração pública, o modelo de gestão das OSS possui, segundo o executivo, uma flexibilidade maior do investimento dos recursos recebidos.
As compras podem ser feitas em quantidades e prazos menores de pagamento. “Dessa forma, podemos imobilizar menos recursos em materiais, fazendo o estoque girar mais rápido. E, assim, toda redução de custos de suprimentos pode ser investida em outras áreas importantes, como contratação de profissionais, melhorias na infraestrutura que garantam melhores condições de trabalho e, consequentemente, um melhor atendimento da população”, explica o administrador.
Essa redução é vital se considerarmos que os materiais estão envolvidos em 100% das atividades de um hospital. Alguns estudos revelam um cenário comum a instituições de saúde que demonstram o quanto a área é importante:

  • 16% do desenvolvimento dos serviços não podem ser executados por falta de materiais;
  • 40% a 80% do tempo dos gestores é perdido com preocupações relacionadas a materiais;
  • 50% dos lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização – EBITDA de um hospital vêm da área de materiais.

Por esse motivo, ao assumir a administração de uma unidade de saúde, o INDSH oferece aos gestores um curso sobre Administração de Materiais e Suprimentos – Logística. “A racionalização da compra de materiais e medicamentos é um dos pontos mais importantes da administração de uma instituição de saúde, pois se for mal feita pode comprometer não só o funcionamento do hospital, mas também prejudicar a saúde financeira da instituição, o que impactará, com certeza, na qualidade do atendimento à população”, explica Costa.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012


Que Enfermagem está atuando em nossos serviços de saúde?

Segundo estudo do Consórcio Brasileiro de Acreditação, os dirigentes ou líderes de enfermagem e mesmo os de recursos humanos não têm utilizados meios ou métodos consistentes para responder questões estratégicas
Como profissionais, temos de fato nos perguntado se nossas práticas e condutas profissionais têm apresentados resultados satisfatórios? Que parâmetros ou medidas temos utilizados para estabelecer uma aferição consistente da competência de nossas equipes? Estamos melhorando a partir do que avaliamos e consideramos evidências insuficientes ou deficitárias?
Dados levantados a partir de avaliações periódicas realizadas em diferentes instituições de saúde, através do programa de acreditação internacional, desenvolvido no Brasil pelo Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), representante exclusivo da Joint Commision International (JCI), indicam que os dirigentes ou líderes de enfermagem e mesmo os de recursos humanos não têm utilizados meios ou métodos consistentes para responder as questões apresentadas acima. Um dos métodos que mais tem sido apresentado ou identificado nas instituições á a avaliação de desempenho. No entanto, estas avaliações, em sua grande maioria, tratam apenas de aspectos comportamentais e, quando abordam aspectos técnicos, os mesmos são definidos em caráter muito restritivo e não são avaliados através de instrumentos formais ou cientificamente validados, o que caracteriza uma fragilidade ou inconsistência na sua aplicação.
O programa de acreditação internacional CBA-JCI, em seus manuais, trata desta questão de forma direta, estabelecendo padrões específicos para estes processos de avaliação regular das habilidades e competências dos profissionais de enfermagem, considerando suas diversas e diferentes atribuições, cargos e funções. As especificidades ou especialidades de atuação também devem ser consideradas em suas distintas dimensões, a partir do que, um mesmo modelo de avaliação de desempenho não pode ser aplicado nestas situações. Por exemplo, não se pode avaliar um enfermeiro ou técnico que atua em um serviço especializado de alta complexidade, da mesma forma que avaliamos aqueles que atuam em unidades de internação clínicas.
O Manual de Padrões para Acreditação de Hospitais do CBA-JCI – 4ª edição possui um capítulo específico que trata da questão da Educação e Qualificação de Profissionais. O manual aborda: “O recrutamento, avaliação e nomeação de profissionais devem ser realizados de forma mais adequada através de um processo coordenado, eficiente e uniforme. Também é essencial documentar as habilidades, o conhecimento, a formação e a experiência prévia do candidato. É especialmente importante analisar cuidadosamente as credenciais dos profissionais de enfermagem, pois estão envolvidos nos processos clínicos assistenciais e trabalham diretamente com os pacientes. As instituições de saúde devem dar oportunidade aos profissionais de aprender e progredir pessoal e profissionalmente. Assim, a educação em serviço e outras oportunidades de aprendizagem devem ser oferecidas aos profissionais“.
No caso específico da equipe de enfermagem o manual destaca: “A instituição precisa garantir que tem um corpo de enfermagem qualificado que corresponde de maneira adequada à missão, aos recursos e às necessidades do paciente. O corpo de enfermagem tem a responsabilidade de prestar cuidado direto ao paciente. Além disso, os cuidados de enfermagem contribuem para os resultados globais do paciente. A instituição deve assegurar que os enfermeiros estão qualificados para prestar cuidados de enfermagem e deve especificar os tipos de cuidado que eles têm permissão para prestar, caso isto não esteja identificado nas leis e regulamentos”.
Além desta necessidade de capacitação, se faz necessário garantir que os profissionais de enfermagem atuem segundo conceitos e princípios de gestão contínua da qualidade. Neste aspecto o manual enfatiza: “O papel essencialmente clínico dos profissionais de enfermagem exige que eles participem ativamente do programa de melhoria da qualidade da instituição. A qualquer momento durante o monitoramento, avaliação e melhoria do desempenho da qualidade clínica, se o desempenho de um profissional do corpo de enfermagem estiver em questão, a instituição tem um processo para avaliar o desempenho deste indivíduo. Os resultados das avaliações, medidas tomadas, e qualquer impacto nas responsabilidades profissionais são documentados nas credenciais do profissional de enfermagem ou outro arquivo”.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012


Etiqueta Profissional e sua influência na atenção à saúde

80% das dificuldades enfrentadas por clínicas, hospitais e empresas do segmento têm a ver com relacionamento interpessoal e comunicação, ausência de cortesia e bom-senso, negligência na apresentação pessoal, falta de postura profissional, entre outrosA etiqueta corresponde a um conjunto de bons costumes que possibilitam um convívio mais harmônico entre as pessoas. Acredita-se que sua origem esteja associada ao movimento Humanista da Renascença, tendo como alguns influenciadores o educador Erasmo de Rotterdam e o artista, humanista e mestre de cerimônia de banquetes Leonardo Da Vinci, que legaram diretrizes de boas maneiras. No entanto, a palavra etiqueta começou a ser utilizada apenas a partir do século XVII e provém do francês antigo “estiquette”, que eram bilhetes entregues às pessoas que iriam à Corte, contendo orientações de bons modos.
Percebe-se que a origem da etiqueta é antiga, porém ela permanece sendo um recurso atual e importante, pois está respaldada no humanismo, educação e bom-senso, elementos que estabelecem uma convivência mais adequada e agradável entre as pessoas na esfera social e profissional. Maria Aparecida Araújo, especialista em Etiqueta Social e Marketing Pessoal, em sua obra Etiqueta Empresarial (2004) relata que “pesquisas feitas na Universidade de Harvard demonstraram que 15% do sucesso profissional são devidos ao treinamento, capacidade técnica, à inteligência e à habilidade no trabalho. Os outros 85% estão ligados à competência para se relacionar com as outras pessoas e liderá-las com sucesso”.
Ao atuar em Consultoria de Recursos Humanos, mais especificamente em Treinamento de Recepcionistas em Clínicas Médicas, fica evidente esta estatística levantada pela Universidade de Harvard. Ao aplicar diagnóstico de necessidades da recepção de clínicas médicas para estruturar o treinamento, constata-se que cerca de 20% são necessidades de ferramentas administrativas que proporcionarão mais agilidade e eficácia na gestão da recepção e cerca de 80% estão ligados a problemas de relacionamento interpessoal e comunicação, ausência de cortesia e bom-senso, negligência na apresentação pessoal, falta de postura profissional, ou seja, a maior parte das deficiências na recepção de clínicas correspondem a aspectos comportamentais.
Considerando estes percentuais, verifica-se atualmente que investir em um programa de treinamento em etiqueta profissional e marketing pessoal tornou-se um aspecto importante em Clínicas e laboratórios médicos. Pois, profissionais da área de etiqueta estão comprometidos e aptos para proporcionar diretrizes de boa conduta aos recursos humanos que contemplam a estrutura das organizações do âmbito da saúde, possibilitando um ambiente mais favorável para que médicos do corpo clínico exerçam sua vocação de cuidar da saúde dos pacientes. Mais favorável, visto que a etiqueta profissional gera um melhor clima organizacional, eleva o padrão de atendimento ao paciente, há melhorias na convivência entre os colaboradores e torna mais positiva a imagem da empresa aos olhos do paciente.

Médicos e Planos de Saúde: uma delicada relação


"As operadoras de planos de saúde, por seus abusos e intransigência nas negociações com os prestadores de serviços, penalizam os beneficiários, daí a necessidade de intervenção imediata do poder público"
Em tempos de greve dos Correios, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária e outras categorias do funcionalismo público, os médicos de planos de saúde de todo o País iniciam uma greve, de pelo menos quinze dias, em defesa de reajuste médio de 50% na tabela de serviços e o fim das intervenções que consideram antiéticas, que as operadoras estariam exercendo para baixar os custos dos tratamentos prejudicando os pacientes.
A medida vem sendo anunciada desde o último mês de agosto, quando os médicos iniciaram negociações com as operadoras de planos de saúde a fim de alcançarem a melhoria nos valores pagos aos profissionais da saúde, em média de R$ 45,00 por consulta. Os médicos pretendem a criação de um indexador que permita o reajuste da tabela de serviços com a mesma periodicidade do aumento das mensalidades dos usuários.
Apesar das inúmeras tentativas de se chegar a um acordo com as operadoras, muitos casos foram infrutíferos, mobilizando a categoria a radicalizar com a greve suspendendo os atendimentos eletivos. O protesto foi articulado por três entidades que representam a classe médica nacionalmente: Conselho Federal de Medicina, Associação Médica Brasileira e Federação Nacional dos Médicos.
A greve ocorrerá todo o País. Nos Estados do, Acre, Amazonas, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, Rio Grande do Norte e Rondônia a paralisação ocorre em todos os convênios. Em outros oito Estados São Paulo, Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina a greve será parcial, atingindo operadoras que não fecharam acordo. Já em sete outros Estados, Alagoas, Espírito Santo, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Sergipe e Tocantins a categoria ainda irá decidir a forma da paralisação se total ou parcial. Somente nos Estados do Amapá, Ceará, Distrito federal, Pará e Roraima, não haverá greve face ao acordo firmado com as operadoras.
A preocupação dos médicos, no entanto, não se limita aos valores defasados pagos pelas operadoras, mas em especial pelas chamadas intervenções antiéticas exercidas pelas operadoras.
Segundo a categoria, os planos de saúde impedem a realização de tratamentos de alto custo, abreviam internações e pressionam os médicos a adotarem medidas de contenção que ameaçam a eficácia do tratamento dos pacientes.

Para o Conselho Federal de Medicina a saúde suplementar passa por grave crise de credibilidade, levando os pacientes beneficiários dos planos de saúde a se socorrerem do Sistema único de Saúde (SUS), onde as filas estão cada dia maiores.
Com intuito de se evitar a falência do sistema de saúde suplementar, os médicos vão adotar a greve como forma de pressionar não só as operadoras para o atendimento das reivindicações, mas especialmente o poder público. O objetivo e que o poder público faça uma intervenção direta através de normativas que garantam a autonomia da relação médico-paciente, além do estabelecimento de um sistema de contrato com mínimo de garantias profissionais, e ainda o reajuste periódico na forma como são realizados os reajustes da mensalidade.
O Senado Federal já possui propostas de leis que regulamentarão as relações entre as operadoras e seus prestadores de serviços. Encontra-se tramitando a PLS 165/2001, que propõe entre outras medidas a redução das possibilidades de descredenciamento de médicos e instituições hospitalares, hoje realizados quase sempre sem qualquer aviso. A PLS 380/2011 apresenta a questão do reajuste que ora é reivindicado pelos médicos. Segundo o texto da norma, as mensalidades dos planos de saúde deverão representar melhoria dos honorários pagos os profissionais de saúde credenciados. Este projeto estabelece ainda que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) estipule reajustes regulares para procedimentos e eventos em saúde cobertos pelas operadoras.
Talvez o projeto de lei mais importante a ser apreciado pelo Senado seja sem dúvida o PLS 475/2011, de suma importância aos pacientes e médicos, pois aborda a necessidade de ser estabelecer os princípios éticos no atendimento aos usuários, de forma a determinar que as operadoras devam respeitar a integralidade das ações em saúde, de acordo com a segmentação contratada; a atenção multiprofissional e a autonomia e integridade física e moral das pessoas assistidas.
Mais uma vez as operadoras de planos de saúde, por seus abusos e intransigência nas negociações com os prestadores de serviços, penalizam os beneficiários, daí a necessidade de intervenção imediata do poder público para frear essas empresas que visam apenas os lucros e não a prestação da saúde suplementar de forma eficiente.
* Sandra Franco é sócia-diretora da Sfranco Consultoria Jurídica em Direito Médico e da Saúde, do Vale do Paraíba (SP), especializada em Direito Médico e da Saúde, membro efetivo da Comissão de Direito da Saúde e Responsabilidade Médico- Hospitalar da OAB/SP e Presidente da Academia Brasileira de Direito Médico e da Saúde (ABDMS)
** Nina Neubarth é advogada, membro da Sfranco Consultoria Jurídica, especialista em Direito Público

Epimed lança novo sistema de controle de infecção hospitalar


Tecnologia marca expansão da empresa para outras áreas da gestão clínica. O software apoia gestão de Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), obrigatória em todos os hospitais do País

A Epimed Solutions lança novo sistema de controle de infecção hospitalar, que viabiliza o monitoramento e a análise detalhada de informações relacionadas à atuação das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), obrigatórias em todos os hospitais do país, conforme regulamentação da Anvisa. De acordo com a Epimed, a solução permite ao gestor redesenhar as estratégias de tratamento utilizadas no hospital.
O lançamento do novo software de gestão de CCIH marca a expansão da empresa para outras áreas da gestão clínica.
O desenvolvimento da tecnologia incluiu a formação de uma parceria com o ILAS (Instituto Latino Americano de Sepse). O trabalho conjunto permitiu que as orientações do Instituto fossem incorporadas à ferramenta, recentemente adotada pela Rede D`Or São Luiz, no Rio de Janeiro, para o gerenciamento inteligente das CCIHs dos 12 hospitais da rede localizados na cidade.
Segundo a companhia, dentre os diferenciais do programa estão: a correlação de dados de infecção hospitalar com informações clínicas dos pacientes, a gestão integrada dos protocolos de sepse, bem como a prevenção de pneumonia associada à ventilação mecânica e de infecção relacionada a cateter intravascular.
“A ferramenta permite que os dados sejam acessados em tempo real, de qualquer dispositivo conectado à internet, como celulares, notebooks ou tablets, integrando-se também com sistemas hospitalares e laboratórios de microbiologia”, diz o diretor de pesquisa e desenvolvimento da Epimed, Marcio Soares.
Atualmente a Epimed Solutions monitora dados assistenciais de cerca de 7.000 leitos de UTIs nacionais em mais de 300 hospitais públicos e privados.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Humanização do atendimento é principal motivo pela busca da Acreditação

Pesquisa realizada pelo Centro de Estudos em Gestão em Gestão de Serviços de Saúde analisou as principais razões para que os hospitais escolham entre as certificações ONA, JCI e Canadense


Uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos em Gestão em Gestão de Serviços de Saúde denominada Panorama da Acreditação. O estudo traçou um panorama com um rol de itens que contemplam os possíveis motivos para se escolher determinada acreditação.
A pesquisa foi realizada com 101 hospitais acreditados, correspondendo a 66% do total de instituições que possuem certificação no Brasil. E contemplou as acreditações ONA, JCI, e Certificação Canadense.
Das instituições entrevistadas, os critérios foco no atendimento humanitário e foco no gerenciamento da rotina do hospital são as razões mais apontadas para a escolha das três acreditações analisadas.  
Quanto à percepção dos gestores em relação a estes selos a questão trabalhar fortemente a questão de times assistenciais foi um dos itens que mais pesou para aqueles que escolheram acreditações internacionais.
 A questão trabalhar fortemente a esfera de times assistenciais foi um dos itens quemais pesou para aqueles que escolheram as acreditações internacionais JCI ou Canadense e este aspecto não se mostrou relevante para aqueles que escolheram a ONA, relativamente às demais alternativas de justificativas para a escolha desta acreditação.
O item foco na melhoria dos processos pesou bastante para a decisão pela ONA (18%) e também ficou entre os mais relevantes para a escolha da Canadense (8%). É interessante observar que este item não ficou entre os mais relevantes para a escolha da JCI.
Por último, observa-se que a “aceitação pelos médicos” surgiu como relevante apenas para a escolha da JCI, não tendo relevância para a escolha das demais acreditações.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Delimitando fronteiras entre Saúde e Economia

O bem mais precioso que um ser humano possui é a saúde. De nada adianta ter riquezas incomensuráveis, se a pessoa padece de enfermidades sem cura. A assistência médica é proporcional principalmente ao volume de recursos possuídos pelo indivíduo e seus próximos, em termos particulares. É óbvio que, quanto mais ricos, melhores serão suas condições de atendimento. Contudo, se o cidadão não é abastado, ele depende da assistência médica prestada pelo setor público. Como ela, no momento, não é de boa qualidade, de um modo geral, as pessoas, que podem, recorrem a empresas particulares, pagando vultosas mensalidades, para tentar obter uma assistência médica digna. E quase sempre não conseguem alcançar seus objetivos. Geralmente, o atendimento deixa a desejar. E os cidadãos que não possuem recursos para pagar planos privados? Dependem apenas da assistência médica propiciada pelo setor público, direito garantido pela Constituição. Antigamente, ela era de boa qualidade, atendendo satisfatoriamente a todos. Contudo, com o correr do tempo, ela foi se deteriorando, devido a insuficientes recursos canalizados pelas administrações federal, estadual e municipal ao importante setor.

Os países mais desenvolvidos, na década de 50, aplicavam em gastos com assistência à saúde cerca de 3% do PIB. Agora existem alguns deles que têm 16 % de seus PIBs investidos em assistência à saúde. E temos que considerar ter havido a progressiva desaceleração do crescimento populacional nesses mesmos países. Nosso sistema de saúde possui vários paradoxos. O primeiro, gerencial: improvisam-se gerentes para decidir em organizações complexas, do posto de saúde aos mais altos cargos. Atualmente, o ministro da Saúde é médico, mas nem sempre isto acontece. O segundo, organizacional: descentralização centralizante, com o espectro do antigo INAMPS renascendo nas secretarias estaduais ou municipais de saúde. O terceiro, econômico: carência de recursos em paralelo a desperdícios enormes, ocasionando a existência de profissionais desmotivados e descomprometidos. Falta de recursos materiais ou financeiros com sérios desvios. O quarto, assistencial: resolutividade do ato médico entendido apenas nos estágios avançados de organização da saúde. Não existe promoção da saúde e a prevenção está reduzida praticamente à vacinação e olhe lá. O diagnóstico e tratamento constituem a verdadeira medicina, praticada nas enfermarias, nas UTIS e no Centro Cirúrgico. A reabilitação é desprezada.

O Brasil aplica muito menos do que deveria, inclusive no aspecto legal, em assistência à saúde. A nossa Constituição prescreve que a saúde, ou melhor, a assistência médica, é dever do Estado e direito de todos, bem como a necessidade de um eficaz saneamento básico, pois é fato conhecido de todos que um real investido na prevenção poupa muito mais reais consumidos na medicina curativa. E nosso diagnóstico, como economista, é assustador. O cidadão paga tributos no nível federal, estadual e municipal para que o Setor Público cumpra sua missão. E, infelizmente, constatamos reinar o caos na área. Há hospitais federais, estaduais e municipais com tarefas e regiões superpostas e a população cada vez mais abandonada.

Como já vimos, recursos existem, se bem que insuficientes. Só em CPMF, no ano de 2006, a arrecadação foi da ordem de R$ 32 bilhões. Mas não chegam ao destino final, sendo desviados para outras funções ou mal geridos, provocando desperdícios ou desaparecendo nas redes de corrupção. E a população, insegura, corre atrás de planos de medicina de grupo ou seguro-saúde, alguns se revelando verdadeiras "arapucas" e a maior parte apenas interessada em maximizar seus lucros e não com o juramento de Hipócrates. A maioria dos profissionais de saúde, na área pública, é mal remunerada, apesar de sua capacidade, enquanto uma minoria, composta de "marajás" do setor privado, enriquece numa associação espúria, canalizando pacientes para suas clínicas particulares, desde que os rendimentos sejam elevados e deixando os pacientes de alto custo na rede pública, muitos dos quais associados desses famigerados planos, sem que haja ressarcimento ao Estado dos custos do tratamento.

A solução passa pela clara delimitação de responsabilidades, com adequados orçamentos, pelas três esferas de poder. No nível federal, a responsabilidade pelo saneamento básico, pela prevenção das endemias, pela coordenação geral das atividades médicas empreendidas pelos estados e municípios. Na esfera estadual, o dever de manter hospitais de maior especificidade para atender aos problemas crônicos, de maior nível de especialização, demandando internações maiores. Aos municípios, além do reforço às funções anteriores, a responsabilidade pelo atendimento ambulatorial, a triagem, o restabelecimento do médico de família. Todos os profissionais bem remunerados, com treinamento adequado, recursos compatíveis, instalações dignas e o tratamento indicado assegurado (inclusive medicamentos e exames). Todo paciente com o direito de ser dignamente atendido, com o ressarcimento pelos planos particulares dos tratamentos efetuados, quando o paciente for associado a um deles. Assim, haverá recursos e todos serão atendidos pela rede pública dignamente. Quem tiver recursos de sobra, e o desejar, que procure os "medalhões". Na medicina não deveria haver lugar para o mercantilismo. Quem o quiser, que abandone a nobre profissão e abra um cassino.

Agora, percebe-se claramente o progressivo sucateamento da rede pública, o desprezo por seus profissionais, numa clara preparação da privatização total do setor. Os planos particulares já possuem mais de 40 milhões de associados. Faltam-lhes apenas os hospitais. E o planejamento dos "mercantilistas" da saúde é justamente este. Tornar os hospitais públicos inviáveis para comprá-los a preços vis, tornando-se assim possuidores deste vasto patrimônio, construído com recursos de toda a população que, como sempre, será esbulhada.